(pra mim essa é a última semana do ano…então é o post final, até 2012.)
Chovia muito e a gente olhava pela varanda, em silêncio, tranquilas. Seu tricô, meu eterno diário no colo, cada uma imersa em seus pensamentos. Tantas dúvidas naquela cabeça adolescente e uma amizade sincera que ia crescendo. Ao dividir minha primeira tristeza amorosa ouvi como conselho: a vida tem a cor que você pinta, filha. A tristeza foi, o amor também, outros vieram e foram e você também foi. Fiquei aqui, olhando a chuva, em silêncio, não mais tão tranquila e mais sozinha. You can never hold back spring.
Terminou. O ano, a faculdade, o ciclo. O nosso sonho, a gente realizou. O último momento do “nós quatro”, os infalíveis, os imbatíveis. Todos fizemos nossa parte, eu acabei de terminar a minha. Eu sinto vontade de chorar, eu sinto vontade de voltar, eu sinto falta dos nossos domingos. Eu sou a outra metade sozinha.
Mas a vida tem a cor que a gente pinta. Por isso eu olho com tanto orgulho, você só pode se orgulhar do que você conquista. Por isso me orgulho da minha força e da coragem que vocês me deram. Seja você por inteiro, vocês me diziam. E isso fez todo o sentido do mundo ao me ver 100% entregue a tudo o que fiz esse ano. Conte com você e com a sua irmã. Isso também fez todo o sentido ao me ver com os dedos sangrando de tanto esmurrar portas fechadas e, ao chegar em casa, ter tantas portas abertas pra mim.
Pra que ser um peixe no aquário se você gosta de água salgada? São tantas frases clichês que ouvi de vocês. Mas todas elas me fazem sorrir. A vida é simples, eu sei disso. As vezes eu tento me enquadrar em certas coisas pra ser legal, mas eu sempre me senti mais feliz lendo meus livros em casa. Eu me sinto voltando a infância, retomando meus próprios valores, talvez eu tenha sido uma criança estranha. Eu reproduzia meus livros favoritos em milhões de cadernos pela casa. Eu fazia barcos gigantes de papel e ali dentro passávamos o final de semana. Eu escrevi um livro com 13 anos. Eu construía casas para as formigas. O meu mundo era povoado de seres, de sorrisos e de elogios. Vocês me elogiavam muito. E são nesses elogios que eu ainda me sustento quando me percebo cada vez mais nessa patrulha onde todo mundo se cutuca e ninguém se elogia. De verdade, olhando nos olhos.
Eu fazia acampamento no quintal e só saía da floresta quando o almoço estava pronto. Eu dançava no espelho. A felicidade cabe num potinho de água com giz.
Por isso não me pergunte porque estou longe. Porque cansei. Falta humanidade pros homens. Se todos nós déssemos energia, ninguém se sentiria exausto sem as suas no fim do dia. Todos teríamos disposição pra pintar a própria vida. Li que cada um possui um terreno nessa vida, todos do mesmo tamanho e qualidade de terra. Uns plantam flores, outros deixam o mato crescer. E outros, ainda pior, jogam sal.
Talvez eu tenha feito meu próprio caminho por aqui mesmo. Ontem a Helena me disse: claramente seu mundo cresceu. Por isso eu preciso de raízes, de ar, de terra molhada. Preciso mais de rios que de mar. Pensei que fosse por causa da margem, mas não. Minha alma está tão livre que eu poderia sair voando, eu me sinto quase voando.
Não tem nada de esotérico, de místico. Mas eu senti esse chamado. Vocação, vida, energia? Não sei. Mas alguma coisa me puxa de uma forma tão forte, que tenho medo de sair voando e não voltar. Mas pensando bem, voltar pra quê? Pro sim e não? Pro isso ou aquilo? Pro feliz e triste? Pro branco e preto? Existem tantas nuances, sinto que tenho milhões de arco-íris de cores diferentes pra usar. Eu vejo o brilho de diamantes em vidros velhos de esmaltes.